Após terminar de ler o Asno de Ouro, esse segundo livro serviu de certa forma como uma continuação.
PERCEPÇÕES
1) Sobre o Livro
O livro trata de um seminário dado pela autora, onde cada capítulo era uma palestra. Por isso ele tem uma dinâmica interativa, através de perguntas e respostas.
Essas palestras tratam do chamado "Eterno Jovem", um arquétipo representado através de dois romances onde é feito uma análise de suas consequências na vida de quem está encarnando suas características.
O primeiro analisado é o Pequeno Príncipe. O segundo livro é pouco conhecido e não entrarei em detalhes.
2) ARQUÉTIPOS E COMPLEXOS
a) Objetivos
Qual a relação entre Complexos e Arquétipos? Como eles interagem entre si? E o que isso impacta em nosso dia a dia? Encontrei em um site na internet a seguinte definição:
Um complexo é uma reunião de imagens e ideias, conglomeradas em torno de um núcleo derivado de um ou mais arquétipos, e caracterizadas por uma tonalidade emocional comum. (psicologiajunguiana.com.br/?page_id=88)Da leitura do Asno de Ouro percebi que esse livro tratava do Complexo Materno do personagem principal. Já o Puer Aeternus mantinha uma análise em duas vias: Arquétipo do Jovem Eterno e do Complexo Materno. Essa síntese busca tornar claro a relação entre os dois.
b) Características do Puer Aeternus
A Marie Louise von Franz utilizou o livro do Pequeno Príncipe e bem como a história pessoal de seu autor, Saint Exupéry, para explorar as características do Puer Aeternus, o Jovem Eterno. Faço uma observação inicial de que aquele que está possuído por esse arquétipo se vê como um pequeno deus. Agora seguem características gerais do Puer Aeternus dadas pela von Franz:
- Permanece muito tempo como adolescente;
- Sentem-se especiais (pequenos deuses) e por isso não buscam se adaptar-se;
- Assumem atitude arrogante em relação aos outros (complexo de inferioridade e falsos sentimentos de superioridade);
- Dificuldades de encontrar um tipo certo de trabalho, pois o que aparece nunca é o que buscam;
- A mulher nunca é a ideal, sempre há um "cabelo na sopa", sempre existe um mas...;
- Há um terrível medo de se prender, de entrar completamente no tempo e no espaço, e de ser o ser humano específico que ele é;
- Há sempre o medo de se pegar em uma situação na qual seja impossível sair;
- Há uma atração por esportes perigosos:aviação, alpinismo. De modo que nesses esportes se encontre o mais alto possível, simbolizando a separação da mãe, isto é, da terra, da vida comum.
- Em indivíduos com o complexo muito pronunciado, muitos encontrarão a morte prematura em acidentes de avião e de alpinismo.
- São impacientes por temperamento;
- Suas qualidades positivas são por exemplo: têm um certo tipo de espiritualidade e criatividade acima da média, que advém do contato relativamente próximo com o inconsciente coletivo.
c) Um Quadro do Pequeno Príncipe
Assina-lo, entre todas essas características, uma que me ajuda a entrar ainda que superficialmente no livro do Pequeno Príncipe. Essa característica é: temor em se ligar.
Algum de vocês já pararam para pensar em que tipo de ser humano é o Pequeno Príncipe? Será ele realmente um ideal de afeto ou o contrário?
Eis uma pintura que faço e que pode nos ajudar a ilustra seu quadro:
Solitário em seu planeta tão pequenino que não caberia um elefante, um baobá ou um vulcão que possa entrar em erupção. Fragilizado e com sentimentos tão superficiais que após uma briga com sua Rosa, decide-se por abandoná-la e voa para outros planetas na tarefa de encontrar amigos. Ele é aquele que ao tocar a Terra (o seu lado humano) teve o contato com a Serpente amarela (o desejo de morte), que lhe fez a promessa de tirá-lo desse mundo terrível. Mas ele também decidiu continuar a caminhar e graças a seu desejo de Vida encontrou a Raposa, essa tão simpática figura que lhe ensina valiosas lições e que para mim é a quem sustenta o livro entre os grandes livros.
A Raposa lhe ensina a importância de cativar! Justamente aquilo que ele mais foge, de criar laços. E ele de forma tão humana se deixa cativar por ela. A Raposa agora era a chance do pequeno príncipe de se estabelecer na Terra, mas ele decide por voltar para sua Rosa. O que não tem problema, exceto pela afirmação dele: a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar. O pequeno príncipe encontrou um amigo, mas decidiu deixar o amigo com um choro superficial... um choro que logo passa... Ele sabe que sempre que somos cativados ganhamos algo. A Raposa ganhou um símbolo que lhe fará feliz, a visão do trigo, dourado como o cabelo do pequeno príncipe. O Pequeno Príncipe aprendeu a cativar e fazer laços, mas seus laços são frouxos e distantes. São frios como a Serpente amarela, que lhe morde e lhe satisfaz o desejo de sair desse mundo, dessa Terra tão dura.
E por fim tem o clamor do Sant Exupéry no final do livro que se alguém encontrar um menino que não responde perguntas, que lhe pede que desenhe um Carneiro, que lhe escreva. Que lhe deixe saber que ele voltou. Pensemos a fundo nessa afirmação. O Pequeno Príncipe cumpriu com seu ciclo e é razoável esperar que ele não retorne a Terra. No entanto o autor lança esse seu clamor infantil de que lhe avisem se ele voltar. Como se não tivesse integrado a experiência de ser cativado.A análise fica por conta de cada um.
d) Relação entre Arquétipo e Complexo
O Arquétipo é um símbolo vivo que por motivos que desconheço encarna-se em um indivíduos e inocula nele seu conteúdo psíquico, que se estabelece através de um Complexo.
No caso do Puer Aeternus o Complexo que é ativado a partir de sua energia é o Complexo Materno. Sobre o Complexo Materno muito foi dito no livro O Asno de Ouro e em outras obras da psicologia Junguiana. E é importante notar que ele não é ativado unicamente por conta do Puer Aeternus, existem outras causas que fazem com que ele se expresse.
Para não ficar repetitivo, vou finalizar essa síntese trazendo o que aprendi no livro. Que aqueles que encontram-se identificados com o Puer Aeternus e, por consequência disso, engolidos pelo dragão do Complexo Materno, a alternativa é ser capaz de criar laços sólidos e profundos. Não fugir. Não se frustar com a vida cotidiana. E decidir-se pelo caminho da vida e integrar em si o caminho da morte.