O Robert A. Johnson é um dos autores junguianos com quem tenho maior empatia. Sua vida é simples e ao mesmo tempo é rica. Participou da primeira turma do Instituto C. G. Jung em Zurique, conhecendo o próprio Jung em sua passagem na Europa; também recorrentemente passou períodos na Índia, entre outros locais, no Asharama de Sri Aurobindo em Pondicherry; e nos Estados Unidos participou ativamente do centro construído por J. Krishnamurti.
Sua biografia é o exemplo de uma vida plena em uma dimensão humana e espiritual. Essa obra é portanto a expressão de sua visão de mundo, contando com inúmeras histórias pessoais e de pacientes que fundamentam a metodologia formulada por Jung para análise de Sonhos e para realizar a Imaginação ativa. Esse é um livro de estudo para todos aqueles que buscam com seriedade aprender a linguagem das imagens que surgem do nosso reino interior.
I - REINO INTERIOR
O objetivo do livro é permitir ao leitor conseguir vivenciar a chamada Vida Interior. Mas fica a questão, com quais olhos iremos ver aquela realidade que se passa em nosso interior? É certo que o paradigma que direciona o olhar científico de nossa sociedade concebe nossos sentimentos e pensamentos como frutos de sinapses, condicionamentos, atos reflexos, etc; aquilo que podemos chamar de mente é fruto de termos um cérebro; aquilo que podemos chamar de amor é fruto da influência de algum hormônio; e por ai segue. Para compreender a dinâmica da Vida Interior é necessário um outro modelo para que o que se desenvolverá nesse texto faça sentido, e esse modelo que será apresentado é fundamentado no Inconsciente.
INCONSCIENTE
O Inconsciente em uma visão quantitativa é como um oceano, enquanto a consciência é uma rolha que flutua em sua imensidão. Ele não é inerte, sendo a energia que vivifica. O Inconsciente se aproxima muito da noção de Mundo das Ideias de Platão. A visão Junguiana do Inconsciente concebe que ele é:
ARQUÉTIPOS
É possível pensar nos arquétipos como a estrutura básica que compõe não somente a mente humana, mas o próprio Universo. Eles são ao mesmo tempo energias que imprimem uma forma, como também conduzem a um destino. A palavra Arquétipo tem o paralelo das Ideias formativas de Platão. Jung nomeia alguns desses arquétipos: Sombra, Persona, Anima, Animus, Self. o Robert diz que:
Complexos são agregados de energia que carregam uma alta carga emocional. Fazendo uma analogia ao filme Divertida Mente (2015), os complexos são aquelas Ilhas que são resultados de Memória Base. Os complexos estão relacionados a uma estrutura própria da psique, portanto é pessoal. Já os Arquétipos estão relacionados a estrutura do Inconsciente, portanto tem uma natureza coletiva.
EGO
Aquilo a que nos referimos quando nos perguntam "Quem é você?" é o que podemos chamar de Ego. O Ego é formado pela mesma substância que formam os Complexos; mas embora o Ego seja essencialmente mais um Complexo que compõe a Personalidade, ele conta com uma dimensão a mais: a Consciência.
Os Complexos são Inconscientes, enquanto o Ego conta com a chama da Consciência para iluminar seu caminho. Ilustrando através de uma imagem, o Ego é semelhante a um homem que busca manter uma chama acesa enquanto busca sobreviver a uma tempestade. O Ego é uma estrutura construída no decorrer da vida de uma pessoa. O Ego não é algo a ser combatido, mas pelo contrário, é algo a ser fortificado e amadurecido.
O Ego frágil é o problema, pois ele não entende a dinâmica das forças do inconsciente e nem entende seu papel no jogo. Já o Ego maduro é aquele que acrescenta uma dimensão humana e ética para as forças amorais do Inconsciente.
INDIVIDUAÇÃO
O processo que conduz o Ego á uma identidade perfeita com o Self é o chamado processo de individuação. Segundo o que o Robert ensina:
A filosofia tradicional da índia considera três níveis de realidade. A primeira é a da vigília - Consciência Acordada - chamada Virat; a segunda é a do sono com sonhos - Consciência de Sonhos - chamada Hiranyagarbha; a terceira é a de sono sem sonhos - Consciência de Sono - chamada Prajna. O que nos mostra que a percepção de realidade é uma questão de como lhe experimentamos.
LINGUAGEM DO INCONSCIENTE
Sonhos, mitos, contos de fadas, visões... em todos esses campos a forma como a realidade se mostra é distinta daquela que vemos enquanto estamos no estado de vigília. A linguagem do inconsciente é a linguagem dos símbolos. Os símbolos são uma expressão direta e objetiva do conteúdo que está nas margens da consciência. Os símbolos que vivenciamos enquanto dormimos não tentam nos enganar com sua aparente subjetividade. Pelo contrário, todo sonho trás uma mensagem; não somente isso, mas o sonho que foi desvendado permite a visão de uma inteligência superior que é capaz de criar uma trama complexa, as vezes louca, e que expressava uma verdade a respeito do sonhador até então ele era incapaz de visualizar.
A interpretação do simbolismo da Linguagem do Inconsciente tem duas frentes: pessoal e coletivo. A análise de um sonho deve sempre levar em consideração os valores e significados que o sonhador tem; o que afasta o uso de livros ao estilo de "dicionários de sonhos", bem como até as concepções de vertentes da psicologia. Como veremos no tópico de TRABALHO COM SONHOS, a análise dos sonhos deve fluir da subjetividade do sonhador. Mas existem sonhos que são supra-pessoais, sonhos que tratam de temas que tocam não à pessoa, mas sim à sua tribo, comunidade, sociedade e até à humanidade; para tais sonhos que carregam traços eminentemente supra-pessoais cabe a análise segundo os arquétipos. A análise de tais sonhos se assemelha a interpretação de um mito, ou conto de fadas. Sobre a interpretação de um sonho, o Robert diz:
FANTASIA E IMAGINAÇÃO
A fantasia é o rompimento da barreira que separa o estado de vigília do estado de sonhos; não por acaso que chamamos de sonhar acordado aquele momento em que somos tomados por uma série de imagens que dominam nossa consciência e nos tiram os sentidos do mundo físico e os volta para dentro. A Imaginação é o mesmo que a fantasia, exceto pela presença de uma vontade ativa. Portanto a Fantasia é passiva, ao passo que a Imaginação é ativa. As duas são acessos à consciência de sonho enquanto acordados; e pela liberdade inerente a essa realidade, é a encubadora de praticamente todas grandes descobertas e criações da humanidade.
II - TRABALHO COM SONHOS
Para o trabalho com os Sonhos serão apresentadas quatro etapas:
Para tornar mais fluido a forma de criar associações é possível deixar tal como no seguinte exemplo:
2. RELAÇÃO DA IMAGENS COM A DINÂMICA PESSOAL
Nessa etapa são observadas as partes de nosso ser interior que aparecem como imagens do sonho. Segundo o que o Robert ensina:
Técnica do Estalo: Se ao fazer uma associação uma delas se encaixar com uma dinâmica interior, a ponto de que sentimos que algo foi tocado ou que uma onda de energia foi despertada a partir dessa associação, eis que nisso consiste a "Técnica do Estalo".
Inflação: O conceito de inflação é uma característica comum em muitos sonhos e pode ser útil para quem busca interpretar seus próprios sonhos. A inflação, como o próprio nome sugere, é um estado em que o Ego se encontra "se achando". Segundo o Robert:
O que tenho em comum com essa imagem? Uma forma simples para estabelecer a Relação entre as Imagens e a Dinâmica Interior, é perguntar: quais características dessa pessoa que apareceu em meu sonho e onde as encontro em mim?
Qual o cenário que o sonho se passa? Essa é outra forma de relacionar os motivos do sonho com nossa dinâmica interior. Existem sonhos em estamos em uma floresta, outros na praia, estamos indo para um reino sombrio etc. É fundamental ver o pano de fundo que compõe o cenário que o sonho se desenvolve.
3. INTERPRETAÇÃO
Essa etapa é a reunião de todo trabalho da primeira e da segunda etapa, unificando as peças desconexas e criando um quadro unificado. Deve-se perguntar nessa etapa: qual é o ensinamento, a informação mais importante que o sonho está tentando transmitir?
Para analisar um sonho de maneira apropriada é recomendado que a sua interpretação seja anotada. Segundo o Robert:
Ele conta uma história curiosa:
E quando não se consegue pensar em nada?
3. TRABALHO COM A IMAGINAÇÃO ATIVA
INCONSCIENTE
O Inconsciente em uma visão quantitativa é como um oceano, enquanto a consciência é uma rolha que flutua em sua imensidão. Ele não é inerte, sendo a energia que vivifica. O Inconsciente se aproxima muito da noção de Mundo das Ideias de Platão. A visão Junguiana do Inconsciente concebe que ele é:
A fonte criativa de tudo que evolui para a mente consciente e para a personalidade total de cada indivíduo. É da matéria-prima não elaborada do inconsciente que nossa mente consciente se desenvolve, amadurece e expande para incluir todas as qualidades potenciais que temos(I.W. pg. 14).
ARQUÉTIPOS
É possível pensar nos arquétipos como a estrutura básica que compõe não somente a mente humana, mas o próprio Universo. Eles são ao mesmo tempo energias que imprimem uma forma, como também conduzem a um destino. A palavra Arquétipo tem o paralelo das Ideias formativas de Platão. Jung nomeia alguns desses arquétipos: Sombra, Persona, Anima, Animus, Self. o Robert diz que:
Nem todas as imagens que aparecem nos sonhos são arquétipos. Deveríamos começar por observar que o inconsciente é de energia e que ele se ordena em sistemas distintos de energias -- ou o que poderíamos chamar de "formas de energia". Estas formas de energia podem ser sentimentos, atitudes, valores ou personalidades completas, que vivem dentro de nós. Realmente todos temos muitas personalidades distintas coexistindo dentro de nós, a nível inconsciente. São estas 'personalidades" interiores que nos aparecem em sonhos como "pessoas". Dentre estas formas de energia que se apresentam como imagens em nossos sonhos, existem arquétipos. Mas a maioria dessas formas não são arquétipos, não correspondem aos modelos universais; são simplesmente sistemas pessoais de energia de quem sonha. [...] Identificar um arquétipo é uma questão de sentir que estamos sintonizados com um sistema universal de energia humana, face a um poderoso símbolo que brota do fundo de nossa natureza humana coletiva; não se trata de usarmos uma lista de tipos que alguém fez. (I.W. pg 40)SELF
O Self, ou o si-mesmo, o Ser... é um arquétipo que representa a totalidade do ser humano. Fazendo uma regra de três... temos:
Arquétipos ------------ Self
Complexos ------------ EgoSegundo o Robert:
Como se sabe, a individuação é o movimento em busca da conscientização do Self.
O produto final desta evolução é algo que podemos sentir, experimentar e descrever intuitivamente, mesmo que ainda não o tenhamos conseguido -- o sentido de totalidade, de ser completo. A unidade de nosso ser total e a nossa consciência dessa condição de unidade, está expressa em um arquétipo. Jung chamou este arquétipo de Self.
Esse arquétipo é o princípio da integração. É também o todo -- a pessoa inteira. Quando um símbolo do Self aparece em sonho, representa não só a totalidade de nosso ser, mas também a capacidade potencial para a mais alta consciência -- a percepção da unidade em nós mesmos e no cosmo.COMPLEXO
Complexos são agregados de energia que carregam uma alta carga emocional. Fazendo uma analogia ao filme Divertida Mente (2015), os complexos são aquelas Ilhas que são resultados de Memória Base. Os complexos estão relacionados a uma estrutura própria da psique, portanto é pessoal. Já os Arquétipos estão relacionados a estrutura do Inconsciente, portanto tem uma natureza coletiva.
Aquilo a que nos referimos quando nos perguntam "Quem é você?" é o que podemos chamar de Ego. O Ego é formado pela mesma substância que formam os Complexos; mas embora o Ego seja essencialmente mais um Complexo que compõe a Personalidade, ele conta com uma dimensão a mais: a Consciência.
Os Complexos são Inconscientes, enquanto o Ego conta com a chama da Consciência para iluminar seu caminho. Ilustrando através de uma imagem, o Ego é semelhante a um homem que busca manter uma chama acesa enquanto busca sobreviver a uma tempestade. O Ego é uma estrutura construída no decorrer da vida de uma pessoa. O Ego não é algo a ser combatido, mas pelo contrário, é algo a ser fortificado e amadurecido.
O Ego frágil é o problema, pois ele não entende a dinâmica das forças do inconsciente e nem entende seu papel no jogo. Já o Ego maduro é aquele que acrescenta uma dimensão humana e ética para as forças amorais do Inconsciente.
INDIVIDUAÇÃO
O processo que conduz o Ego á uma identidade perfeita com o Self é o chamado processo de individuação. Segundo o que o Robert ensina:
Individuação é o termo que Jung usou para se referir ao processo que realizamos ao longo de nossa vida no sentido de nos tornarmos os seres humanos completos que nascemos para ser. A individuação é nosso despertar para o ser total, permitindo que nossa personalidade consciente se desenvolva até absorver todos elementos básicos inerentes em cada um de nós no nível pré-consciente. (I.W. pg 19)E para entender a importância de seguir em busca da Individuação:
Se trabalhamos na individuação, começamos a perceber a diferença entre as idéias e os valores que vêm de nosso Self e as opiniões que absorvemos do mundo à nossa volta. Podemos parar de ser mero apêndice da sociedade, pessoas estereotipadas: aprendemos que temos nossos próprios valores, nossa própria maneira de viver, que procedem naturalmente de nossas naturezas inatas.
Desenvolve-se um grande senso de segurança nesse processo de individuação. Começamos a entender que não é necessário lutar para sermos iguais a outrem, pois sermos nós mesmos é a base mais firme em que podemos nos apoiar. Percebemos que conhecer-nos a nós mesmos completamente e desenvolver todas as forças que estão dentro de nós é uma tarefa para a vida inteira. Não precisamos imitar a vida de ninguém. Não precisamos de outras pretensões, pois o que já temos é riqueza suficiente e é bem mais do que esperamos.E em outro trecho:
A individuação não é só tornar-se cônscio desses sistemas de energia interiores, mas encontrar o relacionamento e a unidade entre eles. (I.W. pg 61)REALIDADES ALTERNATIVAS
A filosofia tradicional da índia considera três níveis de realidade. A primeira é a da vigília - Consciência Acordada - chamada Virat; a segunda é a do sono com sonhos - Consciência de Sonhos - chamada Hiranyagarbha; a terceira é a de sono sem sonhos - Consciência de Sono - chamada Prajna. O que nos mostra que a percepção de realidade é uma questão de como lhe experimentamos.
LINGUAGEM DO INCONSCIENTE
Sonhos, mitos, contos de fadas, visões... em todos esses campos a forma como a realidade se mostra é distinta daquela que vemos enquanto estamos no estado de vigília. A linguagem do inconsciente é a linguagem dos símbolos. Os símbolos são uma expressão direta e objetiva do conteúdo que está nas margens da consciência. Os símbolos que vivenciamos enquanto dormimos não tentam nos enganar com sua aparente subjetividade. Pelo contrário, todo sonho trás uma mensagem; não somente isso, mas o sonho que foi desvendado permite a visão de uma inteligência superior que é capaz de criar uma trama complexa, as vezes louca, e que expressava uma verdade a respeito do sonhador até então ele era incapaz de visualizar.
A interpretação do simbolismo da Linguagem do Inconsciente tem duas frentes: pessoal e coletivo. A análise de um sonho deve sempre levar em consideração os valores e significados que o sonhador tem; o que afasta o uso de livros ao estilo de "dicionários de sonhos", bem como até as concepções de vertentes da psicologia. Como veremos no tópico de TRABALHO COM SONHOS, a análise dos sonhos deve fluir da subjetividade do sonhador. Mas existem sonhos que são supra-pessoais, sonhos que tratam de temas que tocam não à pessoa, mas sim à sua tribo, comunidade, sociedade e até à humanidade; para tais sonhos que carregam traços eminentemente supra-pessoais cabe a análise segundo os arquétipos. A análise de tais sonhos se assemelha a interpretação de um mito, ou conto de fadas. Sobre a interpretação de um sonho, o Robert diz:
Neste assunto não temos só o direito, mas o dever, de recorrer à nossa própria imaginação criativa. Somos livres para designarmos os arquétipos por nomes que tenham sentido para nós como indivíduos. (I.W. pg 40)
FANTASIA E IMAGINAÇÃO
A fantasia é o rompimento da barreira que separa o estado de vigília do estado de sonhos; não por acaso que chamamos de sonhar acordado aquele momento em que somos tomados por uma série de imagens que dominam nossa consciência e nos tiram os sentidos do mundo físico e os volta para dentro. A Imaginação é o mesmo que a fantasia, exceto pela presença de uma vontade ativa. Portanto a Fantasia é passiva, ao passo que a Imaginação é ativa. As duas são acessos à consciência de sonho enquanto acordados; e pela liberdade inerente a essa realidade, é a encubadora de praticamente todas grandes descobertas e criações da humanidade.
II - TRABALHO COM SONHOS
Para o trabalho com os Sonhos serão apresentadas quatro etapas:
- Fazer Associações;
- Relacionar as imagens do sonho com a dinâmica interior;
- Interpretar;
- Realizar rituais para a concretização do sonho;
Aqueles que tentam analisar seus próprios sonhos encontram certa dificuldade, pois os sonhos em regra trazem temas ignorados a consciência em espécies de "pontos cegos"; o auxílio de uma pessoa que possa conduzir a análise pode facilitar a interpretação, no entanto nem todos contam com esse apoio. Dessa forma utilizar uma metodologia pode tornar o processo mais objetivo.
1. ASSOCIAÇÕES
Como foi dito anteriormente, as associações em um sonho não precisam seguir um script. O sonhador é o responsável por criar associações entre as imagens que lhe surgiram em sonho. O exemplo abaixo foi retirado do livro, onde o sonho analisado girava em torno do Cinza.
Para tornar mais fluido a forma de criar associações é possível deixar tal como no seguinte exemplo:
Bruxa: Maçã; conto de fadas; branca de neve; idade média; feitiço; mulher; verruga; feia;Ampliações arquetípicas podem ser feitas. Pois grande parte das imagens não se restringem somente ao simbolismo pessoal do sonhador, mas também ecoam na experiência da humanidade. O autor
2. RELAÇÃO DA IMAGENS COM A DINÂMICA PESSOAL
Nessa etapa são observadas as partes de nosso ser interior que aparecem como imagens do sonho. Segundo o que o Robert ensina:
Por dinâmica interior queremos dizer qualquer coisa que acontece dentro de você, qualquer sistema e energia que vive e age dentro de você. Pode ser um evento emocional, tal como uma onda de raiva; pode ser um conflito interior, uma personalidade interior agindo através de você, um sentimento, uma atitude, um humor específico.
Técnica do Estalo: Se ao fazer uma associação uma delas se encaixar com uma dinâmica interior, a ponto de que sentimos que algo foi tocado ou que uma onda de energia foi despertada a partir dessa associação, eis que nisso consiste a "Técnica do Estalo".
Inflação: O conceito de inflação é uma característica comum em muitos sonhos e pode ser útil para quem busca interpretar seus próprios sonhos. A inflação, como o próprio nome sugere, é um estado em que o Ego se encontra "se achando". Segundo o Robert:
o Ego é inflado quando somos presos num sistema de poder, quando estamos perdidos em um ideal ou abstração, às custas da condição humana comum, quando o Ego está cheio de si por ter-se identificado com um arquétipo, perdendo todo o senso de seus limites. Então começa a 'voar alto' e a cura é 'voltar os pés à terra'.Em regra as imagens dos sonhos dizem respeito a uma dinâmica interior; em um exemplo simples: se sonhamos que alguém morreu, não quer dizer que essa pessoa morrerá. Deve-se ficar claro que os sonhos são dirigidos para dentro, e acontece uma vez ou outra dele tratar de coisas fora. Portanto é essencial perceber que a segunda etapa tem que ter como ponto de partida as dinâmicas interiores; caso após muita reflexão as imagens continuarem sem sentido, é possível com muito cuidado procurar em alguma dinâmica exterior.
O que tenho em comum com essa imagem? Uma forma simples para estabelecer a Relação entre as Imagens e a Dinâmica Interior, é perguntar: quais características dessa pessoa que apareceu em meu sonho e onde as encontro em mim?
Qual o cenário que o sonho se passa? Essa é outra forma de relacionar os motivos do sonho com nossa dinâmica interior. Existem sonhos em estamos em uma floresta, outros na praia, estamos indo para um reino sombrio etc. É fundamental ver o pano de fundo que compõe o cenário que o sonho se desenvolve.
3. INTERPRETAÇÃO
Essa etapa é a reunião de todo trabalho da primeira e da segunda etapa, unificando as peças desconexas e criando um quadro unificado. Deve-se perguntar nessa etapa: qual é o ensinamento, a informação mais importante que o sonho está tentando transmitir?
Para analisar um sonho de maneira apropriada é recomendado que a sua interpretação seja anotada. Segundo o Robert:
Tira-se a interpretação de um nível de fantasia e abstração e coloca-se em uma forma que pode ser vista com clareza. Através do ato de escrever, começa-se a ter uma melhor intuição sobre o que realmente faz sentido e o que não faz. Enquanto a interpretação estava girando pela cabeça, pode ter soado excelente, mas quando se a anota começam-se a perceber as falhas; verifica-se se o conjunto é realmente consciente, se realmente a coisa "dá um clique" (IW pg 104)Sobre como saber se a interpretação está correta, o Robert complementa:
Como o sonho é composto por sistemas de energia, um bom teste para a interpretação é ver se existe energia por trás dela. Se a interpretação desperta energia e sentimentos fortes em você, se de repente ela fornece insights na sua vida, se de repente você começa a pensar em outras áreas da sua vida onde essa interpretação faz sentido, se ela o esclarece e o liberta dos padrões onde você esteve empacado, tudo isso são sinais de que existe uma tremenda energia por trás dessa interpretação. Quando você anota uma outra interpretação, é possível que perceba que simplesmente ela não tem nenhuma energia. Ela murcha, morre, e não é possível conectá-la com nada que tenha vida ou poder para você. Esse é um ótimo sinal de que a interpretação não é boa para o sonho.Segundo o Robert, nessa terceira etapa existem quatro regras para validar a interpretação:
- Escolha uma interpretação que lhe mostre algo que você não sabia;
- Evite a interpretação que infle o Ego ou que seja auto-elogiosa;
- Evite interpretações que transfiram suas responsabilidades;
- Aprenda a viver com os sonhos -- Utilize-os a longo prazo no decorrer de sua vida.
Essa quarta regra de interpretação me chama a atenção pois ilustra algo que os sonhos são capazes de fazer. Causarem um impacto absurdo na consciência e obrigar ao sonhador a viver com um enigma que não tem como objetivo propriamente o de ser resolvido, mas exatamente o contrário, o enigma deve ser ruminado; dessa contínua rememoração do sonho, pelo seu potencial intrínseco, a consciência vai sendo transformada e até transmutada.
Corroborando com essa ideia, na Grécia clássica os gregos iam para alguns templos específicos em busca de cura para seus males; é dito que a noite, enquanto dormiam o próprio deus em uma de suas diversas formas vinha em sonho ao moribundo, as vezes como serpente, as vezes como um curandeiro... e no sonho a serpente lhe lambia a ferida... o curandeiro passava um unguento. E conta-se que assim as pessoas eram curadas; pelo próprio deus; através de um sonho.
4. RITUAIS
A quarta etapa trata de fazer alguma coisa física para ajudar a integrar a experiência do sonho em nossa vida consciente, desperta. Segundo o Robert, os melhores rituais "são físicos, solitários e silenciosos: estes são os únicos que são registrados o mais profundamente no inconsciente".
Ele conta uma história curiosa:
Muitos anos atrás, quando eu estava estudando no Instituto Jung, em Zurique, a famosa Toni Wolffe (uma colega de Jung) trabalhava ainda com pacientes, como analista. Particularmente nesse assunto de fazer alguma coisa concreta com os sonhos, ela era conhecida com "monstro sagrado". Recebia seus pacientes na porta, e antes mesmo que eles chegassem a uma cadeira, ela perguntava: "e o que você fez com o sonho da semana passada?". Os pacientes que tinham feito alguma coisa específica, alguma coisa concreta, estavam a salvos da fúria que se abateria sobre eles. Mas, se eles hesitavam e gaguejavam, dizendo que pensaram pouco sobre o assunto, que conversaram com alguém ou coisas vagas como essas, ela o fazia dar meia volta e os reconduzia à porta. Enquanto a porta era fechada violentamente atrás deles, ela dizia: "volte quando puder falar a sério". Assim era com ela, e todos sabiam: ou se trabalhava ou se desistia.Sobre o ritual ele diz:
Se examinarmos o ritual do ponto de vista psicológico, podemos afirmar que o ritual correto é o comportamento simbólico, cumprido conscientemente. Pessoas diferentes terão linguagens diferentes para expressar o que é simbolizado pelos atos ritualístico. Mas a forma mais elevada do ritual tem esta característica: aqueles que dele participam sentem que estão realizando um ato que tem significado simbólico, e conscientemente procuram transformar o ato em um símbolo ativo, dinâmico. Cada movimento é o próprio símbolo em ação, trazendo o poder do mundo interior para uma forma física e visível. Quer estejamos cônscios disso ou não, muito do nosso comportamento é simbólico, mas o que transforma atos físicos em rituais elevados é a expressão do simbolismo dentro de um ato consciente. Em seu significado máximo, o ritual é uma série de atos físicos que expressam de forma condensada nosso relacionamento com o mundo interior do inconsciente. [...] O ritual é a ferramenta que torna possível expressar a essência da situação do sonho, a essência do princípio que o sonho ensina, a essência da energia arquetípica do sonho; o ritual reduz a voltagem o bastante para podermos transformá-lo em atos imediatos, concretos.
E quando não se consegue pensar em nada?
Pode-se sempre realizar um ato físico simples, mesmo que não se consiga pensar em alguma coisa relacionada diretamente com seu sonho. Saia e dê uma volta no quarteirão em reverência ao seu sonho, se isso for tudo que conseguir imaginar. Acenda uma vela. Faça alguma coisa! Se você, conscientemente, realizar um ato -- qualquer ato -- em honra do sonho, será assimilado no seu inconsciente.Isso então acaba com a explanação dos sonhos. Seguindo para o terceiro capítulo do livro que é a Imaginação Ativa.
3. TRABALHO COM A IMAGINAÇÃO ATIVA
A parte do Trabalho com Imaginação Ativa eu não vou descrever aqui nessa postagem, porque eu mesmo não pratiquei. Mas recomendo a leitura do livro para quem tem interesse de aprofundar no tema; a Marie Louise Von Franz também tem um livro que trata do tema. A Imaginação Ativa é uma das ferramentas que pode auxiliar a vivenciar o Reino Interior de maneira mais direta e consciente que os sonhos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para mim ler um livro não é passar os olhos por marcas de tinta impressas em um papel, acumular um pouco mais de conhecimento ou simplesmente passar o tempo; a leitura é a oportunidade única de ter contato com a alma do autor, e o Robert é para mim alguém a quem tenho profunda admiração, respeito e amor. Ele é a imagem do velho sábio, sempre silencioso e introvertido, mas que quando se põe a falar, expressa as mais belas imagens de uma vida rica e fascinante. Através de sua vida pude ser capaz de visualizar uma dimensão espiritual nas coisas simples da vida. Dessa forma, ao ler sua biografia, ao ler seus livros, ao ouvir suas entrevistas, é possível ver um homem que lutou por ter uma vida plena e a conquistou. Quando me referi à proximidade que temos da alma do autor quando lemos seu livro, e principalmente quando sabemos de sua história e luta, quero me referir agora ao sonho que o Robert fala no livro que foi de onde ele teve um grande Insight... e que de tabela... rebateu em mim... e agora vou tentar colocar em palavras minhas e dele. O insight foi a respeito do tipo psicológico.
Na primeira etapa, expliquei alguma coisa sobre a função do sentir e a diferença entre emoções e sentimentos. Foi necessário um bom tempo para chegar ao ponto em que associei esse detalhe, bolso esquedo da camisa, com meu lado capaz de sentir. Isso porque nunca havia pensado em mim mesmo como um tipo de pessoa capaz de sentir. Pensava que "os tipos que sentiam" eram altamente emotivos. Pensava que, uma vez que não dado a demonstrações de emoções e não aprecio muito sentimentalismo, eu não era um tipo capaz de sentir, mas sim dominado pelo pensamento ou pela percepção racional. Foi essa associação com o coração que me levou a considerar melhor e verificar que Jung não quis dizer "emocional" ao se referir a um tipo de indivíduo capaz de sentir ou a uma função do sentir. Esse símbolo forçou-me a uma auto-análise mais cuidadosa. Comecei a perceber que o aspecto da vida que realmente me motiva, em torno do qual involuntariamente gira minha vida, é o lado do sentir: as pessoas que atraem meu amor e cujas qualidades magníficas eu admiro, assim como os valores a que dedico minha devoção e lealdade. Este sentir nos relacionamento dá energia à minha vida e torna-se seu centro. Na vida, o que me move e inspira profundamente, mais que tudo, é a beleza, a nobreza e as virtudes interiores que vejo nos seres humanos que entram contato comigo. Até ter tido esse sonho, sempre tentei reprimir essa corrente de energia dentro de mim, reduzi-la, mantê-la encoberta. Na família e na cultura em que fui criado, esse sentimento não era abertamente demostrado por ser considerado embaraçoso, suspeito, não razoável. Se você se deixasse comover profundamente por uma sinfonia, seria considerado um pouco estranho. Se mostrasse muita afeição, poderia deixar os outros constrangidos. Qualquer um que tomasse decisões vindas do coração, ao invés de usar o frio senso prático, era considerado suspeito, indigno de confiança. Sentir, amar intensamente, ficar inebriado com a beleza de alguém, com alguma coisa da natureza, ou com um valor -- tudo isso seria inadequado e deslocado naquela respeitável sociedade. Como resultado do sonho e da interação com o símbolo descobri minha tipologia e as leis que a acompanham -- descobri que sou um tipo introvertido orientado pelo sentimento e que a mola principal da minha vida é diferente do que eu pensava. Assim, identifiquei uma parte minha que parece corresponder a esse símbolo e encontrei uma dinâmica específica de minha vida interior, que mostrou-me onde essa parte atua.E ele continua
No momento em que levei a cabo esse ritual, toquei meu sonho nos mais diversos níveis que consegui. Ele tornou-se uma parte vívida da minha vida, uma experiência para a qual eu volto em minha mente, repetidas vezes. Vivendo com seus símbolos e significados que, pouco a pouco, se foram tornando mais claros, gradativamente alterei minha vida para conciliar-me com a nova concepção de mim mesmo, que o sonho implantou na minha mente. E qual era essa nova concepção? O sonho forçou-me a perceber que a coisa mais importante na vida, para mim, é a amizade e a troca de sentimentos com outras pessoas. Não preciso ter muitos relacionamento, mas preciso de boas amizades que envolvam um nível profundo de comunicação, seja para troca de idéias, seja pela simples alegria de estar junto. Como resposta ao sonho decidi ir à Índia, visitar uma cultura antiga onde as pessoas ainda se relacionavam umas com as outras através de antigos laços de clã e tribo, onde o calor, o sentimento e a reciprocidade humana são valorizados acima da lógica, da ordem e da produção. A série de visitas que fiz à Índia e ao Oriente deram-me um novo ponto de referência, fora da mentalidade na qual fui criado. Adquiri uma noção completa do que é viver entre pessoas que colocam o amor, o sentimento e a troca humana acima de todos os outros valores; senti-me em casa. De volta aos Estados Unidos, os efeitos do sonho sobre mim continuaram. Comecei a sair do padronizado modo de vida americano, com suas metas, o programa excessivo de trabalho, o sentimento constante de pressão e o prazo esgotado, dinheiro a ser ganho e pessoas a impressionar. Foi um processo vagaroso. Mas agora, passados os anos, posso dizer que os dias da minha vida contrastam bastante com aqueles da vida que eu levava, quando sonhei com os quatro marginais. Há tempo para relaxar, para visitar os amigos, para plantar o jardim, para ouvir música, para a Imaginação Ativa. A sucessão de mudanças práticas que tornou isso possível começou com o sonho e as novas atitudes que começaram a evoluir dentro de mim, o novo conceito que começou a se desenvolver em resposta aos seus símbolos, sobre quem realmente sou.