23.11.15

A Passagem do Meio - James Hollis


INTRODUÇÃO
A meio-caminho na jornada da vida encontrei-me numa floresta escura, tendo perdido o caminho (Divina Comédia)
O James Hollis é um autor que vem me surpreendendo com sua capacidade de escrever de maneira clara e simples, onde suas palavras são carregadas de uma inspiração e um olhar objetivo do nosso mundo.

O livro trata da chamada Passagem do Meio, um termo que tem seu significado ampliado no livro e que de maneira geral é conhecido como crise da meia idade. No entanto não se trata de uma meia idade cronológica, como se pode supor ainda que justamente, mas seria uma meia idade psicológica.

Nele é considerado a evolução do indivíduo em suas distintas etapas. Sendo a vida representada pelo encadeamento das seguintes visões de mundo: mágica, heroica e humana. Onde o aspecto mágico é associada ao desenvolvimento da criança; o heroico é associado a primeira idade adulta e sua necessidade de se estabelecer no mundo; a etapa humana é a segunda idade adulta. Entre a primeira idade adulta e a segunda ocorre está a passagem do meio.

A seguir estão citações e percepções de trechos do livro. Recomendo a leitura completa do livro, pois é uma história envolvente e que acredito que venha a contribuir bastante para o processo de torna-se si-mesmo.

1) A PERSONALIDADE PROVISÓRIA

O capítulo conta com os seguintes tópicos que trata do desenvolvimento da personalidade da criança e sua influência na vida adulta.

Considerações:
Podemos chamar de Criança Interior aquela primeira experiência de mundo que ocorreu ainda criança e que as neuroses que experimentamos já adultos são como que uma tentativa inconsciente de defendermos essa criança. A personalidade provisória é uma série de atitudes escolhidas pela frágil criança para lidar com a angustia existencial, com um único objetivo: autoproteção. A experiência de sofrimento infantil generalizada e dividida em duas:
  • Experiência de negligência e abandono;
  • Experiência de ser esmagado pela vida.
Em uma frase do autor:
A passagem do meio representa uma intimação interior para que deixemos a vida provisória e avancemos em direção à verdadeira idade adulta, do falso eu para a autenticidade.

Percepções do Capítulo:
A atitude da criança que toma o mundo como uma extensão sem bordas definidas de seu próprio ego retira a capacidade de perceber o outro como alguém separado do eu. Essa incapacidade de diferenciar o mundo do eu do mundo do outro, em uma unidade inconsciente, termina por capturar a pessoa com visão de mundo infantil segundo os humores circundantes, submetendo-lhe ao julgo do outro e não da libertação através do outro que é fruto de um eu diferenciado. A personalidade infantil age através de uma atitude reflexa, enquanto a adulta age segundo suas próprias escolhas.

Ideias Abordadas:
  • O pensamento mágico na formação da visão de mundo da criança.
  • Como a criança aprende a: confiar, a ter uma auto-imagem, lidar com o mundo.
  • Como a criança lida frente a opressão em busca de proteger o terreno psíquico: a criança aprende variadas formas de acomodação, pois a vida é vista como inerentemente opressiva para um eu relativamente impotente.
  • Como reage a criança diante do abandono (proteção e carinho insuficiente): 1 dependência e 2 busca pela experiência do Outro mais positivo.
  • Surgimentos dos complexos.
  • Como os complexos nos dominam. "O problema é que não somos nós que temos complexos e sim os complexos que nos possuem".
  • Relação entre os Complexos Autônomos, nossa Natureza e nossas Escolhas.

2) O ADVENTO DA PASSAGEM DO MEIO

Tópicos do Capítulo:

  • Introdução: sobre valores, longevidade e escolhas.
  • Pressões tectônicas e intimações sísmicas: função do sofrimento; primeira idade adulta;
  • Um novo tipo de pensamento: do pensamento mágico e heroico para o humano; choque de realidade; finitude e mortalidade.
  • Mudança de identidade: a crise; o encontro consigo mesmo.
  • Retirada das projeções: projeções comuns; relacionamentos e projeções; anima e animus; da paternidade; do desapontamento; as cinco etapas da projeção;
  • Mudança no corpo e na noção de tempo.
  • A diminuição da esperança: da falibilidade.
  • A experiência da neurose: atos externos correspondem a demandas internas.


Pressões tectônicas e intimações sísmicas:
"Muito antes de a pessoa tornar-se consciente de uma crise os indícios e os sintomas já estão presentes". Mas o que vem a ser a crise? Segundo Jung, a neurose "precisa em última análise ser compreendida como o sofrimento de uma alma que não descobriu seu significado".

A partir dessas duas citações surge a pergunta: qual a função do sofrimento? O choque entre as forças do qual resulta o sofrimento é uma promessa de vida nova.

O James Hollis traz a percepção que a passagem do meio ocorre não em um tempo cronológico e linear, mas em um tempo psicológico e de uma dimensão profunda. A passagem do meio está presente quando:
O intervalo de vida da pessoa é expressado numa perspectiva profunda: "quem sou, então, e para onde estou indo?"
Quem sou eu, além da minha história e dos papéis que representei?
 A pessoa precisa enfrentar questões até então evitadas.
Segundo o autor, essas perguntas conferem valor e dignidade à nossa vida, e são reservados três destinos para três diferentes tipos: os esquecidos, os sofredores e os corajosos. Os esquecidos de se questionarem vivem uma vida superficial, ligada a condicionamentos sociais e ao desespero. Os que sofrem bastante são lançados em direção de uma consciência relutante e as perguntas voltam a nos questionar. Os suficientemente corajosos, interessados o bastante pela própria vida, podem recuperá-la através daquele sofrimento. Mas todos recebem avisos muito antes disso.
Antes dos grandes terremotos são sentidos vários pequenos tremores. [...] Os tremores ocorrem no final da casa dos vinte anos.
Um Novo Tipo de Pensamento:
Quando a pessoa se encontra num grau de adaptação à vida ela já deixou a muito tempo de ter fantasias infantis, típicas do pensamento mágico, e se encontra neste momento em um tipo de pensamento realista inflacionado em crise. Esse pensamento está sendo progressivamente desconstruído, caminhando em direção à passagem do meio, onde dará lugar a um pensamento realista mas humilde. Na percepção, tal como nas palavras do autor, que "minha vida nunca será o todo, somente as partes. Essa compreensão poderá ser sentida por alguns como uma derrota, mas outros serão levados a fazer a seguinte pergunta: que trabalho precisa então ser feito?".

A Diminuição da Esperança:
Quando os cordões do coração apertam de repente e tomamos consciência de que somos mortais, as limitações da nossa vida tornam-se repentinamente inevitáveis. O pensamento mágico da infância, bem como o pensamento heroico da adolescência estendida, denominada primeira idade adulta, revelam-se inadequados para a realidade da vida.
O ego imperial e expansionista desvia as inseguranças da infância, transformando-as em algo grandioso. "Fama: viverei para sempre; aprenderei a voar".  As esperanças de imortalidade e celebridade do ego incipiente são diretamente proporcionais ao medo e à ignorância infantil do mundo. 
Existe um embate que revela a quantidade de expectativas que depositamos no outro: por um lado vemos a falibilidade das coisas e por outro acreditamos que nós seremos aqueles que não cairão. Como em uma citação que o autor faz: "Crês que entrarás no Jardim da Bem-aventurança sem enfrentar as provas pelas quais passaram os que vieram antes de ti?".

A Experiência da Neurose
Muitas vezes nossas atitudes externas revelam a demandas internas, mas expressadas de maneira simbólica. Tal como Jung afirma "que o irromper da neurose é apenas uma questão de probabilidade. Por via de regra ela é extremamente crítica. É geralmente o momento em que um novo ajustamento psicológico, uma nova adaptação é exigida".
É extremamente difícil para aqueles que estão sofrendo muito, na noite escura da alma, aceitar que sua dor é boa para eles, [...]. Não existe cura, pois a vida não é uma doença, nem a morte uma punição. Mas existe um caminho que conduz para uma vida mais abundante e significativa.
3) VOLTANDO-SE PARA O INTERIOR

Esse capítulo traz os seguintes tópicos:

  • Diálogo entre a persona e a sombra
  • Problemas de relacionamento
  • Casos amorosos na meia-idade
  • Do filho para os pais para o filho
  • A emergência da função inferior
  • Invasões da sombra

Sobre a Autoridade e Individualidade - Reflexões para quem luta por alguma ideia ou instituição

A Autoridade dominante em um grupo é mantida com a ameaça de exílio para todos que levantem voz contrária a ordem vigente. Essa autoridade cumpre com o papel interior de renovar a figura do provedor de nutrição, segurança e aprovação, o qual na primeira infância era representado pelos pais. De um lado existe no indivíduo o desejo de realizar sua própria integralidade e unicidade, que invariavelmente esbarra na ordem vigente, e do outro lado existe a necessidade de ser parte do grupo, a fim de afastar as carências da alma e o peso um vida que não encontrou seu sentido. Diante desse conflito surge a necessidade de sustenta-se sobre suas próprias pernas e buscar seu alimento e proteção, o que é percebido pelo Ego Enfraquecido com o terror de pela primeira vez se ver só em um mundo hostil. Quem vive o conflito de tornar-se a si mesmo acaba por experimentar esse conflito, que é vivenciado com muita culpa. Mas de onde surge a culpa? Ela é a defesa contra a angústia da exclusão. Tão grande é a ameaça da perda do lar, tão aterrado a perda dos pais, que todos nós, até certo ponto, continuamos a nos submeter a uma Autoridade que acaba por nos alienar de nós mesmos.

4) EXEMPLOS NA LITERATURA

Esse trecho tratou de uma literatura que eu não tenho contato, então pulei.

5) INDIVIDUAÇÃO: O MITO JUNGUIANO PARA NOSSA ÉPOCA

A individuação:
A experiência da passagem do meio não é diferente de acordar e descobrir que estamos sozinhos, balançando num navio, sem nenhum porto à vista. Nossas únicas opções são voltar a dormir, pular do navio ou agarrar ao leme e seguir a viagem.
A individuação é um termo cunhado por Jung e que designa o processo de tornar-se si-mesmo. Neste capítulo serão abordados os aspectos da individuação relacionados à passagem do meio.

6) SOZINHO EM ALTO MAR

Nesse último capítulo é abordado:

  • Da solidão à solitude.
  • Absorvendo o trauma da separação.
  • A perda e a retirada das projeções.
  • Ritualizando o medo.
  • Entrando em contato com a criança perdida.
  • A vida apaixonada.
  • O atoleiro da alma.
  • A grande dialética.
  • Memento mori.
  • A pausa luminosa.